terça-feira, 15 de novembro de 2011

De repente

Hoje foi apenas a necessidade de postar as linhas de pensamento de um amigo que me trouxe até aqui:

De repente, ele viu sua mãe chorar. Muito jovem para entender tudo aquilo. Seu pai saiu com uma mala e arrepiou seu cabelo ao nomeá-lo o homem da casa. Uma mulher e três crianças... Ou melhor, uma mãe, um homenzinho e mais duas crianças que ele protegeria com os punhos de um garoto briguento. Como se sentiu o garoto? Dificilmente entenderemos, pois é quase certo que nem ele saiba explicar a pluralidade e ambivalência de sentimentos que o envolvia naquele momento e no período posterior. O que muitos pensariam, consciente ou inconscientemente, em sua situação é: “por que ele nos deixou? Por que fui deixado? O que é que eu fiz? Talvez se eu tivesse sido ou me saído melhor naquilo...” Julgo que nosso jovem, no seu íntimo, ainda se questiona, embora racionalize tudo para que sua consciência possa suportar.
O papai gostava de muitas coisas, mas sempre demonstrou especial interesse pela leitura, um homem entregue as letras, admirador da boa literatura... E o garotinho? Não entendia nada disso, nem sabia que com isso poderia ter o pai de volta. Mas, poderia mesmo? Não importa, era uma possibilidade. No momento o que importa é a atenção devotada, o afeto investido, e isso ninguém poderá tomar dele. Foi isso que o garotinho fez, mas somente muito tempo depois.
O papai agora é autor livros, coisa de gente grande. Homem de poética ingênua e simplória, pois é assim que se faz um acalentador relato sobre suas vivências interioranas, o seu mais recente livro. O garoto agora é crescido, e letrado, pois foi rapidamente tomado por um impulso voraz de saber; não um saber qualquer, mas o saber discursivo, poético, que visa o domínio das palavras... Que retorno, que busca, que regressão no tempo... É! para muitos seria tarde demais, mas para ele não, é apenas o começo. Devora rapidamente o livro do papai. Com uma caneta rabisca alguns erros de edição... Como dizem: o aprendiz um dia supera o mestre. Mas ainda não foi isso que aconteceu.
O garoto vai continuar crescendo... E vai continuar escrevendo a partir daqui este humilde relato de quem não sabe nada do sofrimento de um pequeno garoto.

(Róbson Henrique)