terça-feira, 4 de agosto de 2009

Um dia em que eu, talvez, cante...


Que eu não cante somente ao ver algumas árvores cobertas de frutos perfumados no verão; mas que eu cante, também, ao vê-las todas nuas, devastadas por prolongadas secas ou por pragas.

Que eu não cante somente quando alegria, paz, beleza e amor encherem meus olhos, coração e vida; mas que eu cante, também, quando eu sentir que um deserto se abriu no meu peito e em todas as vezes que parecer que uma noite se estagnou bem no fundo da minha alma.

Que eu não cante somente quando meus pés caminharem entre flores e eu sentir que vicejo num jardim, ofertando perfume aos meus amigos, meus irmãos; mas que eu cante, também, quando o insucesso, a dor, a ingratidão varrerem do meu caminho todas as flores e o deixar eriçado só de espinhos.

Que eu não cante somente na áurea juventude dos meus anos quando me sinto como uma ave, na doce liberdade de pairar por cima das belezas da existência; mas que eu cante, também, quando se forem as aves e as belezas e eu sentir o inverno, em solidão de ventos frios...

Mais do que nunca, então, farei com que eu sinta, em minha fronte, o sopro cálido de um sereno e imenso amor de mãe e se é mister que eu chore, nesses dias, possam as minhas lagrimas vertidas cair todas sem mágoa, reluzentes, como as ultimas notas de cristal desta longa canção da minha vida...